Morais e o Futuro do STF: Um não cabe no outro.
Acusador, juiz, policial, censor... e o Senado assiste calado.
“Não é de hoje que o STF trocou o plenário por palanque. Mas Moraes fez disso uma arte performática.”
Por André Lisboa
Alexandre de Moraes não é uma aberração do sistema. É o retrato emoldurado de um álbum antigo — sempre presente, mas que agora com o uso dos poderosos filtros e retoques das câmeras digitais aplica beleza onde não tem. Diferente de pessoas que passaram pelo cargo de ministro do STF e preferiram esconder sua mediocridade jurídica sob o disfarce do anonimato, ele posa, acena, sorri para a câmera — e gosta do holofote. Mas ali não tem luz. É reflexo de um aplauso torto, vindo de quem confunde vaidade com virtude.
Não é que ele saiba mais. É que ele não se importa em parecer menos. Onde outros fingiam compostura, ele avança com convicção. Moraes resolveu atropelar tudo e todos: Constituição, Parlamento e bom senso. E o mais grave: o sistema deixa.
A escolha de ministros do Supremo já é, por si só, um escárnio. Um puxadinho político disfarçado de prerrogativa constitucional. Pior do que isso, só o fato de não existir um caminho funcional para retirá-los quando atravessam os limites institucionais. A responsabilidade recai sobre o Senado, que deveria agir como contrapeso. Mas o Senado se omite. Sempre. Quase sempre faltou altivez entre seus integrantes. Falta espinha. Falta caráter.
O resultado é esse: um ministro que atua como juiz, acusador, censor, policial — e tudo o mais que der na telha. Um Estado paralelo dentro da toga. E o povo? O povo assiste. Sem entender bem como, mas sentindo no bolso e na liberdade os efeitos de cada canetada que não passou pelo crivo de ninguém.
Porque Alexandre de Moraes não é exceção. É o rosto mais visível de um organismo silencioso — forjado em décadas de privilégios, aparelhamento e conivência institucional. Um sistema que não apenas permite, mas estimula o surgimento de figuras autoritárias, blindadas pelos seus pares e sustentadas pela cumplicidade escancarada das instituições.
No Brasil, a lei não se curva — ela foi solapada. O código de leis, aquele que chamávamos de Constituição, foi tomado de assalto. Moraes não interpreta a lei: ele reescreve, distorce, invalida. E faz isso sob a chancela de um Estado que se serve a si mesmo, onde o direito ficou esquecido nas estantes, nos discursos — trancado em armários empoeirados que ninguém mais se dá ao trabalho de abrir.
Aqui, não é a impunidade que prospera — é a punição seletiva. A mão do sistema pesa, sim, mas só sobre os que desafiam o coro. A voz dissonante não apenas vira alvo: ela é julgada, censurada e castigada. Moraes reina. Mas o castelo já estava erguido, sólido, pronto pra recebê-lo.
O STF, sob esse modelo, não tem futuro. Ou volta a funcionar como uma corte constitucional — honrando o ato que a constituiu, com limites e responsabilidade, respeitando, diga-se, a própria Constituição — ou vira um manicômio em que a camisa de força será usada no lugar da toga.
É daí pra pior.
Porque ficar assistindo de plateia essa mediocridade disfarçada de serviço prestado à sociedade… já deu.
Eu tô só começando. Clica no botão de Subscrever e acompanha os próximos vôos desse Comandante — e se tempestades, turbulências forem vistas no radar, prometo contorna-las e conduzir a aeronave para um pouso seguro e suave.